segunda-feira, 28 de junho de 2010

Only Sibaya! O frio e a excursão. (Brasil x Coréia do Norte)

Vinte e poucos anos de vida já são suficientes para conhecer e decidir o que é bom na vida. 

Aprendizado um: nos anos 90 aprendi, com o Tamagochi, que 25ºC era a temperatura ideal para se viver. O número dois é que não é de hoje que eu aprendi que excursão e cilada são palavras que se aproximam cada dia mais, se é que não foram criadas juntas. 

 Chegando no ônibus da excursão

Excursão é uma coisa incrível. É o único fenômeno social que conheço que inverte Maquiavel. Os meios não justificam os fins. Ou ao menos não valorizam. Os fins são sempre agradáveis, afinal você se mete em uma excursão porque quer ver algo agradável, seja um city tour por Recife, uma detalhada visita a Ouro Preto, uma viagem pela Mongólia interior, ou filas no Hopi Hari. Mas os meios... ah, os meios são sempre assustadores. Horários bizarros, guias estranhos e o estranho desejo de organização, que acaba transformando tudo numa grande desorganização. Sem contar no iminente irritante clima de "façamos todos juntos".

O fim da minha excursão era mais que justificável: assistir Brasil x Coreia do Norte, primeiro jogo do time do Dunga na Copa da África. A aventura que eu contei aqui no blog que tinha passado ao sair do mesmo estádio que veria o jogo do Brasil, somado ao fato de que tudo fazia parte do pacote que ganhei, me fizeram seguir todas as instruções passadas pelos guias de turismo, apelidados de "Craques em campo" pela criativíssima equipe das agências de viagem. 

Sim, isso é uma fila para embarque em um avião.

Do ônibus passei pelo aeroporto de Durban, por uma hora de ônibus até um cassino onde o objetivo era fazer com que nós, turistas, movimentássemos o financeiro no local, comendo e jogando. Os atrasos fizeram com que tivéssemos 25 minutos contados para tudo isso, antes de pegar outro ônibus e em mais 40 minutos com Charlie, nosso "esperto" motorista chegamos ao objetivo, o estádio Ellis Park, em Johannesburgo. Tipicamente excursional. 

                                      Excursionistas estão chegaaando, estão chegando os excursionistaaass

Viajar com brasileiros diverte, com paulistas, nem tanto, mas a expectativa pela estréia brasileira fazia até os eleitores de Paulo Maluf simpáticos. Acho que foram os paulistas, inclusive, que inventaram a excursão. Incrível como eles se divertem e tentam divertir os demais. Vuvuzelas, sambas, aplausos para o pouso do piloto, e até um vendedor de bugigangas fizeram parte do vôo 541 que nos levou até a cidade do cotejo. 
Chega-se ao estádio, passa-se o ingresso, ultrapassa-se a roleta. Conheço meu lugar no estádio, perto da orelha do Dunga, já tenho o que fazer se algo der errado.

Eu, o Cristo, e o (G)Ellis Park Stadium

E o mundo se mostra mais frio do que eu imaginei que ele poderia ser. Impressionante. Aí está a razão da lição do Tamagochi. Dois graus negativos, com sensação térmica de -8ºC. E eu me pergunto porque essa tal sensação térmica só piora as coisas, nunca traz uma boa notícia, seja no Rio de Janeiro a 40ºC, seja em Juburg a -2ºC, a sensação térmica sempre aparece para piorar. O frio era frio que dói quando o vento bate na cara, frio que não serve nem pra ver filme e comer pipoca, quanto mais para ver jogo de futebol. Mas como é Copa, 55 mil pessoas tentavam criar um calor humano por ali. A única vantagem é que a cerveja não esquentava, o que tornava esperta a idéia de comprar mais de uma e deixar esfriando embaixo do banco para o segundo tempo. Nessa hora lembro de Gerson, campeão da Copa de 70 e comentarista dos bons da rádio, que diz que a Copa deveria ser sempre no México: quente, pequeno, perto, mesmo fuso, cerveja gelada e todo mundo torce para o Brasil. 

Chega a hora do hino. Emoção? Até teria, se o hino não fosse cortado abruptamente no "Pátria Amada". Quem conhece sabe, hino brasileiro só emociona se chega, no mínimo, a parte da "mãe gentil".

                                                         Hino cortado, Vanusa não ficaria feliz.

O jogo em si é chocho, assim como as comemorações dos gols, seja pelo frio, seja pelo Dunga. 

Impressiona é a vontade brasileira de aparecer na TV. Gente que vai com esse objetivo para o estádio, fantasiadas, com cartazes que clamam por Galvão Bueno. Uma câmera aponta e é o alvoroço, e depois do jogo, é comum a cena de ligações para os entes queridos que ficaram no Brasil, e de lá da África fazem a pergunta básica:
 - Apareci?
Na falta de norte coreanos, foto com os japoneses!

Maravilhado pelo mundo do futebol, só me recordo que ainda sou um excursionista quando o juiz apita. Não precisava nem lembrar, a meia hora de caminhada com o vento na cara, para chegar no ônibus e perceber que nosso querido motorista Charlie tinha sumido, e teríamos que ficar exposto a ira do inverno sul-africano, são suficientes para entrar no clima da cilada novamente. 

Frio que é frio merece cachecol na cara e foto de lado.

O aeroporto é aquecido, mas nada aquece mais o coração do que voltar para a cama do hotel. Pena que isso só vai acontecer as 3h40, mais três horas depois que cheguei no aeroporto, afinal, são as regras da excursão. 

O vôo chega em Durban quase as 5h, e nessa hora Durban também é fria. Como é excursão, tem que se organizar os ônibus, afinal são três hotéis diferentes que hospedam os brasileiros, e cada carro vai para um. Cansados, com frio, de saco cheio de aeroporto, ainda temos o último ato da "organização": um loiro, no maior pique de meio-dia, com o sol nascendo, berrando como se aeroporto fosse estádio e como se não houvesse amanhã no nosso ouvido, apontando para um dos ônibus:

- ONLY SIBAYA! ONLY SIBAYA! ONLY SIBAYA! 

Sibaya, ainda bem era o meu hotel. E "Only Sibaya", pela situação "rir para não chorar", virou bordão nº1 de todo resto da viagem. 

Sentado no último meio de transporte da noite, sonhando com a cama, escuto uma alagoana companheira de excursão definir bem o dia, e transcrevo aqui. Peço que a leitura seja feita com o sotaque alagoano característico:
- Oxe, e eu que pensava que o inferno era quente. Depois de hoje eu já acho que é escolha do Satanás. Pode ser quente, pode ser frio.

Only Sibaya. 

O Lucas Paio, o outro autor desse blog, não satisfeito em morar na China, resolveu também entrar numa excursão pela Mongólia interior. Se você se interessar, ele divulgou no outro blog dele, o Boca de Gafanhoto, em várias partes, e a primeira você confere clicando aqui, a segunda, você procura!


Share |
Related Posts with Thumbnails

Um comentário:


  1. cilada...
    parece que aconteceu mta coisa nessa viagem ganhada sua!

    mas ainda acho que o motorista de taxi foi pior, não?

    Only Sibaya.

    ResponderExcluir

Seja na China, ou seja no Brasil, tenha a certeza que alguém está agradecendo o seu comentário!