quinta-feira, 17 de junho de 2010

O primeiro jogo. E bem mais que um jogo...


       E chega o momento esperado. Meu primeiro jogo de Copa do Mundo no estádio, pelos caminhos que o destino tomou, foi um jogo da Argentina. 

O post é grande mas vale a pena, leia até o final, é uma baita história.

Não satisfeitos em esperar mais dois dias, quando teria o primeiro jogo em nossa cidade, Durban e na fissurinha por ver um jogo, decidimos, por conta própria, comprar ingressos, passagens e fazer um bate volta para Joanesburgo para ver o terceiro jogo da Copa, Argentina x Nigéria. Torcer contra, e é claro, e deixando o orgulho de lado, ver o Messi jogar. 

O ingresso foi comprado do Brasil na melhor categoria do estádio, a passagem comprada em um dia de promoção, por uma empresa com um nome simpático: Kudulula Airlines. 

Mal sabíamos, e mal sabe você, leitor, que o dia reservaria muito mais que um jogo, muito mais que a primeira peleja in loco em um mundial..O dia 12 de junho de 2010 foi uma aventura que me relembra aventuras de dois anos atrás em uma viagem pela Bolívia. Em uma palavra: perrengue. 

Um táxi suspeito, arranjado por um policial suspeito, na ida, nos deixa a uma distância razoável do estádio.  No caminho, o estádio é cercado por um bairro pobre, e é por lá que caminhamos. Os guias de turismo, de papel e de carne e osso falam com efusão sobre o fato de nunca fazermos o que estamos fazendo ali, andar por aquele lugar. Com medo caminhamos pela vizinhança, que nos recebe com sorrisos e acenos que emociona. Emociona quase o mesmo tanto avistar o estádio. Nigerianos, argentinos e gente de diversas nações que escolheram os sul americanos ou os africanos para o seu one day fan. 

Tooodo empolgado!

Entrar no estádio de Copa pela primeira vez, para mim, foi como a hora da valsa em um baile de 15 anos, isso se eu fosse uma garota, porque, obviamente, não tive o prazer de ser uma debutante. É só uma comparação plausível quando se fala da emoção. O vídeo abaixo mostra o momento da entrada no estádio, a filmagem foi atrapalhado pela mulher dos ingressos, que não entendeu o a imposrtância do momento e me mandou desligar a câmera para saber o meu lugar. 

Além do fato de ser Copa do Mundo, assistir um jogo no estádio de Copa ganha muitos pontos pelo fato de venderem uma cerveja acessível (Budweiser, em garrafinhas pet que parecem de vidro na TV), e pelo telão,  que com uma imagem melhor do que a da TV do quarto, mostra o replay dos lances mais perigosos, excetuando-se os polêmicos para proteger o senhor juiz. 
A arquibancada é bem mais interessante que o jogo. Em lugares separados, meu pai fica no meio de nigerianos. Eu e minha habilidade natural por atrais histórias de buteco, fico entre os torcedores do Emirados Arábes Unidos, especificamente de Abu Dhabi, executivos da cia aérea Emirates. O papo é legal, e ele insiste que eu tenho que conhecer Abu Dhabi e suas maravilhas, o novo mundo, diz ele. Faltou um pouquinho de cara de pau para pedir uma passagem e sete noites de hospedagem em um hotel que ele provavelmente tem. Mas ele pediu meu telefone, e me deu o celular para digitar. Cada número que eu digitava mostrava o correspondente em arábe, comecei a rir de não entender nada e em pensar como o mundo é diferente.
Meu pai e seu amigo nigeriano!
Eu e a tchurma de Abu Dhabi!

          O jogo termina, a Argentina ganha, e a voz da experiência paterna diz que vamos ter problemas para sairmos do estádio e pegar um táxi para o aeroporto. Não acredito muito, afinal, é Copa do Mundo e pergunto aos policiais que sempre nos orientam com a mais simples das instruções: reto! Chegando a uma avenida movimentada, bem parecida com aquelas ruas da parte xexelenta do centro blorizontino, o trânsito é caótico e nenhum táxi livre aparece. Depois de uma meia hora já com o desespero batendo em sua porta, somos abordados por um sulafricano, que entende português por ter morado por dois anos em São Paulo e nos dá uma mãozinha, dando as más notícias. Quando compramos a passagem vimos que chegariamos por um aeroporto (o O.R. Tambo, principal) e voltaríamos por outro (o Lanseria, que é tipo um Pampulha). O amigo da rua nos informa que estamos longe, muito longe, que demoraria 1 hora até o Lanseria e que táxi era difícil. Mostrou-nos um hotel, falou para entrarmos lá e pedirmos um táxi. 

O estabelecimento em questão era uma mistura de hotel, com pub, com restaurante e nada me surpreenderia se alguma atividade mais rolasse por lá. Adentramos a recepção, que parece ser também o caixa do restaurante, e esperamos para falar com alguém. Antes, meu pai da uma olhada no menu em cima do balcão, e está escrito, em bom português, no meio da Avenida Paraná de Johanesburgo: "Pudim de Caramelo". O resto do cardápio em inglês, com todos os mesmos produtos que usualmente estão lá, cheios de curry e pimenta. O tal do "Pudim de Caramelo" avulso é um dos mistérios que deixo mal resolvidos na África do Sul. 

Os donos do estabelecimento se solidarizam, e mandam o porteiro que controla a multidão que chega no multiestabelecimento nos ajudar. Ele faz umas dez ligações, deixa a portaria pra lá, e sai correndo em busca de um táxi. Quinze minutos de insucesso me fazem sair para fora, me jogar na multidão e também tentar um táxi por conta própria. Deixo o meu pai lá dentro, protegido, agasalhado e sem precisar se preocupar. Eis que no meio da procura, a luz apaga, no hotel e em toda a avenida xexelenta, blecaute na África. Álém do escuro, meu pai ficou preso dentro do hotel, já que o portão dependia da tal da eletricidade. Não sei bem como ele saiu de lá, mas foi um tempo depois, assim que entrei em um táxi livre, feio, sujo e mal cuidado que apareceu na avenida como uma miragem sob meus olhos. 

Combinada a corrida com o motorista, 1 hora até lá, ficaria cara, 500 rands, cerca de R$120. Ele liga (e conversa em zulu, a língua que quase todos os locais aqui conversam e que é tão clara para mim quanto o chinês) para o irmão, para saber onde é o tal aeroporto alternativo, parece entender o caminho, e tudo parece resolvido. E é aí que somos surpreendidos novamente. 

Depois de 50 minutos de viagem avistamos a primeira placa que indica o caminho para o aerooporto Lanseria. O nosso querido taxista, que não fala inglês direito, segue outro caminho, mas o sono, o cansaço e a bobice nos fazem ficar quieto, na certeza que o nativo sabe o que está fazendo. Quinze minutos depois estamos em uma estrada, escura, sem ninguém, e com placas que indicam o caminho para outro estádio da Copa, em Pretória, outra cidade sede! Aí pergunto, e ele fala o esperado, que está perdido. Ele desce do carro no meio do nada, pergunta pra alguém e volta o caminho. Se perde de novo, para em um posto, segue por outro caminho e se perde de novo. Isso se repete mais três vezes, até que eu consigo entender que ele simplesmente não consegue seguir as instruções que são passadas para ele, eu, em zulu, nem entendo quais são essas instruções. Começa com F e terminas com O como estávamos nos sentindo.

O desespero é tanto que no horizonte começamos a avistar aviões imaginários decolando, como se pudéssemos achar o Lanseria pelo céu.

O jeito é rezar. Mas ao invés disso andamos a esmo e procuramos uma placa, uma salvação. Com mais uns 20 minutos achamos uma placa que indica o caminho, o motorista só ve quando falamos e faz uma curva que nos põe no in the right way. Na segunda placa que encontramos, uns dez minutos depois percebo que o motô não segue as placas simpleesmente porque não sabe ler. Na beleza desse momento, cabeças para fora para procurar placas, já que só depende de nós. O aeroporto é isolado, no meio do nada mesmo, e as placas demoram a aparecer. Por fim, uma escolha, esquerda ou direita, e nenhuma placa pra indicar, o analfabetismo, nesse momento, não importava. Assim paramos um caminhão no meio da estrada, em um breu digno de atropelamento, que nos indica onde ir, indicando o caminho da glória!

São e salvos e no horário, depois de 2 horas e meia dentro do táxi, fazemos o check in como se estivéssemos conquistado a nossa própria Copa do Mundo. E tem gente que me acha sem senso de direção...

É minha última noite aqui na África! Amanha 7h35 estou voltando as terras tupiniquins! As histórias aqui da África são muitas e continuarão a ser contadas diariamente aqui no blog! Alemanha x Austrália, Brasil x Coréia do Norte, Espanha x Suiça e muito mais em breve por aqui! Além de histórias diretamente aí do Brasil, afinal, a Copa não para. Aliás, quem vai me convidar para o churrasco de Brasil x Costa do Marfim? Levo a vuvuzela!



Share |
Related Posts with Thumbnails

8 comentários:

  1. muito bom thalesche!
    eu iria entrar em pânico e brigar com o taxista... na tora... (em português mesmo, pra ele não retrucar)

    ResponderExcluir
  2. tcheco!
    queria poder te convidar pra um churrasco de comemoraçao do meu aniversario, mas infelizmente nao vou poder ver meu time africando ganhar dessa merda de seleçao canarinho, pois estarei fazendo prova no exato momento.
    nos vemos na volta!
    bon voiage.
    besos!

    ResponderExcluir
  3. Hahaha....essa é daquelas histórias para ser contadas para os netos!!!!

    Adorei de verdade...Imagino o desespero que passaram!!!!

    Boa viagem pra vcs!!!E continuem contando as histórias!!! =D

    Beijos^^

    ResponderExcluir
  4. eu até arrepiei vendo o vídeo de entrada no estádio! putz! que emocao! mesmo!
    eu tb to afim dum churrasco! se ficar sabendo me avisa tb! bom retorno!

    ResponderExcluir
  5. boa volta, Thales!
    você já tá convocado pra, com uma boa e velha garrafa de vidro de uma cerveja brasileira qualquer, contar todos os outros casos.
    aliás, você tem que encontrar meu gringo de estimação e contar os casos de Alemanha e Austrália pra ele...rs

    ResponderExcluir
  6. Fui lendo a história teeensa! No mínimo pra mim vcs iam perder o avião!

    Tenho uma sugestão de pauta: cambista! tem aí? eu vi alguns estádios vazios e comecei a pensar que poderia ser o preço dos ingressos ou cambistas que morreram com ingresso na mão..
    Imagina quando a Copa for no brasil, só vai dar cambista!

    Avisa quando chegar! Beijos,Quel.

    ResponderExcluir
  7. Sem vuvuzela, por favor.

    Beijos.

    ResponderExcluir

Seja na China, ou seja no Brasil, tenha a certeza que alguém está agradecendo o seu comentário!