quinta-feira, 24 de junho de 2010

A Copa, o Cristiano Ronaldo e o pão arábe quentinho.




Lucas Paio, de Beijing.

Cheguei no Bla Bla Bar, único estabelecimento no campus da BLCU que vende cerveja e passa Copa do Mundo ao mesmo tempo, munido de um pão árabe quentinho comprado no restaurante muçulmano da universidade. Sentei-me à mesinha perto da TV, na área aberta do bar, e pedi cerveja e porção de asinhas de frango. Não tinha mesmo muita opção: os três únicos produtos alimentícios disponíveis no cardápio eram asinha de frango, batata frita e pipoca. Não obstante, o garçom se recusou a deixar que eu comesse meu pão árabe quentinho sentado ali.

- Vou ter que recolher seu pão, e você pega de volta quando for embora.

E ainda apontou para uma placa escrita com giz: “Please don't bring your own drinks and food inside the bar”. Pombas, é claro que eu não vou trazer bebida de fora para um lugar cujo negócio é justamente vender cerveja. E não seria cara-de-pau de trazer um pão árabe quentinho, repousar o traseiro na cadeira em frente à tevê e não pedir nenhum item do cardápio. Fiquei puto, o garçom não tava nem aí, recolheu meu pão e eu só não levantei e fui embora porque o jogo da Argentina com a Coréia de Baixo estava prestes a começar e outros amigos estavam vindo também.

Um deles chegou com uma garrafinha d'água, que foi imediatamente confiscada. Outros vinham com uns biscoitinhos e foram impedidos de entrar enquanto não entregassem a mercadoria. Um grupo de soviéticos apelou com a garçonete e acabaram deixando o recinto. Eu mordia as asinhas de frango com raiva, sem prestar atenção direito no jogo, e quase no final juntei com o amigo da água apreendida e fomos lá procurar o dono do bar.

Ele ficou fingindo que era só um funcionário e nos indicou o gerente pra conversar conosco. Explicamos que aquela proibição ridícula não fazia sentido, que se fossem proibir de levar comida que pelo menos tivessem um cardápio decente, que de qualquer forma estávamos todos bebendo o chopp deles que dá uma ressaca do cacete. O gerente retrucou que poderíamos comer antes e depois vir para o bar. E que sentia muito, mas se estávamos insatisfeitos, melhor irmos a outro bar. Regra era regra. O dono do bar estava do lado dele, tirando chopp da máquina na mocada, e sussurrou que ele nos desse uma garrafinha d'água free. Quando falei que sabia que ele era o dono e não entendia porque ele não queria conversar com os próprios clientes, ele mandou essa:

- Eu tô vendo o jogo, cê não quer ver o jogo não? Depois do jogo a gente conversa.

A Argentina terminou a goleada de 4 a 1 na Coréia e deixou o pessoal satisfeito. Sim, porque embora estejamos na Ásia e mais de 100 mil coreanos vivam em Beijing, a chinesada está torcendo é pros hermanos. Outro dia vi um cara carregando duas camisas argentinas recém-compradas. Messi é unanimidade, e tem até quem ache que o Maradona é “bonitão”. Nosso Brasilzão, cujo principal produto de exportação é o futebol, continua conhecido e admirado, mas na hora que a bola rola, a simpatia do povo tá do lado de lá. Depois do jogo contra a Coréia do Norte, a foto na capa do jornal era do gol da Coréia. Depois dos três a um na Costa do Marfim, a manchete foi para o cartão vermelho do Kaká.


Discutir com dono de bar é bom pra treinar o chinês. Findo o jogo da Argentina, ele apareceu na porta e chamou a gente para um papo. Explicou que os hábitos chineses são diferentes dos ocidentais e eles têm mania de comer macarrão fazendo barulho de sluuuuurp, e isso incomoda outros clientes. Perguntei se alguém já tinha reclamado e ele disse que não. “Então é você que não gosta de ver chinês comendo”, eu quis esclarecer. “Sim. É isso”, ele concordou.

E perguntou: “Vocês querem o quê?”. Poxa, eu só queria poder sentar no boteco, comer meu pão árabe quentinho e beber a cerveja deles enquanto via a Copa do Mundo. Ninguém ali ia ligar pra pizzaria e pedir pra entregar no bar, ou comer um banquete imperial fazendo barulho de sluuuurp. Precisava mesmo botar o garçom pra encher o saco de todo mundo? Ele disse que ia pensar no assunto e, pra encerrar logo o bate-boca, nos presenteou com dois choppões.

Dois dias depois, enquanto a Itália vergonhosamente empatava com os kiwis, os confiscos continuavam, mas o cardápio oferecia três novas opções: hambúrguer de frango, de boi e de presunto. Resolvemos experimentar; afinal, nossas reclamações tinham sido o pivô da novidade.

Veredito: oleoso, chocho e pequeno, foi o pior hambúrguer que já comemos nesses nove meses em Beijing. Fica a questão: será que deveríamos reclamar mais, ou menos?

Gooool do Cê Rô!

Ronaldo, o Gordo, é chamado na China de Luónàěrduō, uma tradução fonética de seu nome original. Já o Ronaldinho Gaúcho não virou uma bizarrice tipo Luónàěrjìníyóu Gáwushuō. Sua alcunha chinesa é um simples Xiǎo Luó. “Luó” é a primeira sílaba de Luónàěrduō, seria o correspondente ao “Ro” de “Ronaldo”. “Xiǎo” é “pequeno”. “Xiǎo Luó”, portanto, é “Pequeno Rô”.

Aí quando apareceu o Cristiano Ronaldo eles devem ter pensado: putz, mais um Ronaldo, como é que a gente faz? A solução: usaram o famigerado Luó e tascaram antes a letra C, em português mesmo, que eles lêem em inglês (“Cí Luó”). Na nossa língua, seria algo como “Cê Rô”. Mais gay que isso, só a pose do C Luó nessa foto aí...


E amanhã tem jogo do Brasil, o terceiro, contra o Portugal do Cê Rô. O umacopadoismundos.com não acompanha o ritmo da Copa, e no próximo post você vê o post sobre o primeiro jogo, Brasil x Coréia do Norte! O interessante é que o Thales estava lá, e você pode conferir em breve aqui como foi ver um jogo com sensação térmica de -8ºC!


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