segunda-feira, 14 de junho de 2010

Once in a lifetime.


11 de junho de 2010, abertura da Copa do Mundo, África do Sul x México.
 E a vuvuzela que toca na janela do hotel as 6h da manhã é o aviso inicial. A TV, ligada após um café em que todos os garçons perguntavam o porquê da ausência de Ronaldinho, anunciava: "Once in a lifetime", slogan da Supersports, canal de TV que se desdobra para mostrar todos os detalhes da competição. Uma mistura de MTV com ESPN Brasil. Era um dia especial, e eu no lugar mais especial que poderia estar. Once in a lifetime.

Seis horas antes do jogo, uma caminhada na praia deu o tom do dia. Todos de verdeamarelo, com vuvuzelas, e gritando palavras de incentivo aos Bafana Bafana. A estrutura montada é incrivel. Cerveja, telões, espaços na areia, que em poucas horas estarão tomadas por seres que falam 11 diferentes línguas, torcendo pela mesma seleção de habilidade, convenhamos, duvidosa.

Uma cerveja gelada, uma TV de LCD, e uma picanha acompanhada das apimentadas batatas sul africanas são suficientes para trocarmos a praia por algumas horas em um bar à beira mar, onde o Oceano Indico parece desinteressante se comparado com a grande movimentação de sul-africanos entrando e formando a tal da multidão. De 13h até a hora do jogo, 16h, não existe um momento em que um sul-africano e sua vuvuzela não entram na estrutura praiana montada pela FIFA, apelidada de Fan Fest.

Na hora do jogo, no mesmo lugar, vejo a multidão formada, pronta e ansiosa. Vinte mil sul africanos se apertam na praia, reunidos, com bandeiras, vuvuzelas e esperenças. O bar também lota. Do meu lado, as cadeiras vazias são ocupadas por um casal. Ele, do Congo, apaixonou-se por uma zulu e veio morar na África do Sul. Pela proximidade com Moçambique, arranha umas palavras em português. Dividir a mesa de um boteco com um congolês, once in a life time.

Catarse coletiva: é a expressão que substituo no meu texto para "começa o jogo". Todo lance é nervoso, me contagio e torço para os Bafana Bafana como se eles vestissem preto e branco e tivessem uma estrela solitária no peito.

Catarse coletiva: é a expressão que eu substituo para "gol da África do Sul". São minutos e minutos da mais pura felicidade. Para mim e para os outros. Danças, cantos, sorrisos, abraços. Entoam juntos, os do bar, os da praia, os dos prédios. Uma canção chamada Shosholoza que dá arrepios. Se fosse qualquer um procurava no Youtube logo após ler esse texto e imaginava como é uma multidão cantando.

Se até então, no mesmo dia, já havia conseguido entender o significado de "Catarse coletiva" e de "felicidade" é neste momento, talvez pela primeira vez na vida, que consigo entender, apesar de não conseguir explicar, o sentido do futebol. É como achar a batida perfeita, é perceber que mais que um esporte, futebol é capaz de conectar as pessoas, e isso já basta.

Sentir essa explicação banal, é outra história, nada banal.

A mão vai no bolso e percebe que a câmera ficou esquecida no hotel. Como não poderei fotografar esse momento? É tão bonito que já está fotografado, pena que não posso mostrar para ninguém, mas de nada adiantaria, já que sentimentos raramente aparecem em fotos.

Sim, e o México empatou. E isso pouco importa. O dia 11 de Junho fica marcado pela comprovação da veracidade de uma frase que uso de cabeceira para todos meus trabalhos. Nelson Rodrigues percebeu o sentido bem antes de mim e proferiu, com uma certeza que consigo ter agora, que "triste, no futebol, é quem enxerga somente a bola".

Uma vez na vida.


Quem acertou no post passado a foto com a camisa foi a Clarice! Uma vuvuzela embarcará para ela! A camisa era do glorioso Atlético Clube de Três Corações!
Amanhã vou no jogo do Brasil, em Joburg, estou de frente para as cameras de TV, no nível mais baixo do campo, estarei vestido com uma camisa preta da FOGOHORIZONTE, jaqueta azul, uma camisa do Brasil em uma mão e uma vuvuzela verde na outra! Quem me achar ganha um tchauzinho!

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